O mês de setembro é marcado pelo sinal “amarelo” de atenção para uma triste realidade que a cada dia registra mais casos: o suicídio. No Brasil acontecem cerca de 12 mil suicídios todos os anos e mais de 1 milhão no mundo. Hoje (10) é especificamente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e neste tempo diversas ações são realizadas com o único objetivo de ajudar as pessoas a preservarem a vida.
Este assunto costuma ser polêmico principalmente quando associado a religião, mas segundo padre Antônio Tatagiba Vimercati, formado em Teologia Moral, Filosofia e Psicoterapia Corporal, o princípio que norteia a relação da Igreja com a questão do suicídio é o da misericórdia. Os padres fazem as visitas e celebram as exéquias normalmente como em qualquer tipo de morte.
“Por que é fácil a gente julgar né?! ‘Ah mas como alguém se suicidou?’ Por isso a questão da misericórdia é fundamental, pois a misericórdia de Deus é infinita. Só Deus conhece o nosso coração, nossos dramas, nossas dores e nossos sofrimentos. E isso nessa questão do suicídio é muito profundo e muito claro, pois a pessoa não fez isso por um simples egoísmo. Quando eu faço esse ato eu preciso compreender o que aconteceu ali”.
Padre Tatagiba realiza um trabalho de apoio às pessoas com base na relação da Fé com o Corpo. Ele afirma que não é possível criar um perfil de quem comete suicídio, mas existem muitos casos de pessoas com tendência a depressão e que diante de situações de dificuldades não tem esperança para continuar. A partir disso é essencial trabalhar em cada um o contato com seu próprio corpo de forma física, psíquica, emocional e espiritual.
O sacerdote explica que o corpo é o lugar primeiro da nossa realidade e ele está sendo cada vez mais submetido a uma visão estética, de uma sociedade que exige que todos vivam sempre alegres. O mundo parece não ter lugar para tristeza e para expressar os sentimentos. Essa imposição faz com que as pessoas sofram muito com essa relação.
“Na medida que eu mergulho no contato profundo com a potência de vida que há no meu corpo eu vou encontrar força – e aí também está o relacionamento com a Fé – para enfrentar os obstáculos. E quanto mais eu faço essa experiência, desse contato pessoal com Deus, eu vou abastecendo e fortalecendo a minha alma e o meu espírito”, destaca padre Tatagiba.
Situações como essa da pandemia também são muito propícias para o cenário do suicídio. Nesta realidade de desarrumação da casa e da vida, a falta de rotina cria uma situação de total desordem. A pessoa que comete esse ato está vivendo um caos interno e encontra ressonância no caos externo, ficando profundamente desanimada.
E para ajudar o outro nesses casos padre Tatagiba enfatiza a necessidade de criar perspectivas para a pessoa possa caminhar: “nós temos que fazer um movimento. O que eu estou dizendo é que é muito importante esse envolvimento do corpo no relacionamento com a Fé, pois foi Deus que me criou. O corpo em que eu habito, Deus habita em mim porque eu sou a morada do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Fui batizado em nome da trindade, então o Espírito de Deus é força em mim”.
Segundo o presbítero, a pessoa que está triste e desanimada também pode procurar auxílio na Igreja. Além do padre, existem religiosos que podem ajudá-las no processo de conhecimento e grupos de escuta dentro das paróquias. Basta manifestar seu desejo de ser atendido e fortalecido. A campanha “Setembro Amarelo” existe desde 2014 e é organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina.