Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Solenidade do Coração do Redentor, do amor de Deus manifestado através de uma fenda feita por um soldado no lado do Senhor Jesus! Tudo já estava consumado. E do Coração, desse Rochedo de carne e de amor, brotaram águas de vida para saciar a sede do mundo e purificar as suas vidas. Os discípulos do Senhor as recolheram e as transforam em água batismal e vinho rubro no cálice da salvação. Não cessamos de reconhecer que a paixão e morte do Senhor seguidas de sua ressurreição constituem o cerne de nossa fé. Somos profundamente gratos pelas atenções do Senhor jubilosamente participamos de seu mistério pascal. Seu e nosso. Não cessamos de nos purificar e nos alimentar, de modo, particular na Eucaristia de todos os dias.

As leituras desta solenidade nos incitam ao amor. Temos medo de discorrer sobre o tema. Não convém ficar repetindo palavras sobre a caridade, o amor. Importa reaprender a amar e nada mais. O evangelho hoje proclamado tem algumas orientações que podem levar ao âmago do Coração do Redentor.

Jesus se volta para o Pai e exprime uma grande alegria. Louva o Pai porque escondeu estas coisas, ou seja, os mistérios de seu amor e as ternuras de seu coração, aos satisfeitos e acabados e as revelou aos pequenos, aos que vivem histórias menos grandiosas, aos que não andam pegando “carona” até mesmo nas coisas da fé para mostrar-se e exibir-se. O Senhor se revela mulher que vem à missa das 7h todos dias e devora Palavra e Pão. Aos que abandonaram o culto de si mesmos e passaram a usar o avental do serviço. Aos que perderam e conservaram um restinho de esperança. “Sempre é assim: o olhar dos simples é em geral mais limpo. Não há em seu coração tanto interesse torto. Eles vão diretamente ao essencial. Sabem o que é sofrer, sentir-se mal e viver sem segurança. São os primeiros que entendem o Evangelho” (Pagola).

Ninguém conhece o Pai senão o Filho. De tanto convivermos com o Filho fomos nos tornando seus “familiares”. Encontramo-lo nos rostos desfigurados, nas pessoas mais ou menos abandonadas, no semblante desfigurado de doentes e moradores em cantos de miséria. Deixamos que sua Palavra penetrasse lá onde começa nossa história, lá onde começamos a ser o que somos. Vamos conhecendo o Senhor e ele nos leva ao Pai. Esse convívio insistente nos leva ao Pai. Fomos sendo possuídos pelo Senhor.

Jesus pede que aqueles que estão cansados a ele se acheguem. Ele promete ajudar a carregar nossos fardos, já que ele é manso e humilde de coração. “O coração de Jesus é o coração de Deus no mundo. Único lugar em que o mundo descobre a verdadeira natureza de seu Deus, mistério destinado a nos cumular de felicidade, o único lugar onde Deus torna-se o coração de nosso coração de tal forma que nosso ser, podendo tudo abraçar e tudo unir ao mesmo tempo nosso centro de gravidade e de equilíbrio”(Karl Rahner).

 “Coração indica o lugar onde o mistério do homem transcende no mistério de Deus; aí, o vazio sem fim que ele experimenta dentro de si clama e invoca a infinita plenitude de Deus. Evoca o coração traspassado, o coração angustiado morto. Dizer coração é dizer amor, o amor inatingível e desinteressado, o amor que vence pela inutilidade, que triunfa pela fraqueza, que morto dá a vida. O amor que é Deus. Com esta palavra se afirma que Deus está onde alguém suplica: “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” Com a palavra coração se denomina algo que é totalmente corpóreo, e no entanto, está todo em tudo, a ponto de se poderem contar as pulsações e aí podemos nos deter com lágrimas de felicidade, porque não é necessário ir mais adiante desse o momento em que se encontrou Deus” (cf. Missal Dominical da Paulus, p, 502).

Uma oração

“Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da mansidão. Ajuda-nos a contrariar a ferocidade do tempo, fora e dentro de nós. Que a tua paz seja a fonte secreta que tudo sustenta. Tudo provenha dessa paz sem vencidos e vencedores. Desta paz que acalma as ameaças e os cercos implacáveis. Dessa paz pronunciada ao mesmo tempo com firmeza e doçura. Dá-nos a mansidão nas palavras que tão facilmente se tornam impermeáveis e nos propósitos que a competição empurra para uma agressividade sempre mais dura. Que cheguemos à mansidão das paisagens reconciliadas como pequenos cursos de água, fazendo florir a terra” (José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, Paulinas, p. 115).

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