A Sagrada Família nos mostra que a família é sagrada
Frei Gustavo Medella
Na multiplicação, enquanto operação matemática, diz-se que “a ordem dos fatores não altera o produto”, ou seja x.y=y.x. Na língua, no entanto, nem sempre a equação funciona da mesma forma. Sendo assim, quando se fala Sagrada Família, a associação imediata se faz com as figuras de Jesus, Maria e José, representadas por artistas de diferentes épocas e ofícios, com lugar cativo na vida de devoção da imensa família cristã. Invertendo-se os fatores, chega-se à formulação “Família Sagrada”. Embora muitos ainda possam associar às consagradas imagens do mundo da fé e da devoção, esta inversão leva a pensar na importância e na centralidade desta instituição para a vida de cada ser humano. Ou seja, a família, com todos os seus limites e contradições, é ambiente sagrado onde a pessoa nasce, cresce, se desenvolve, aprende a amar e a ser amada.
É claro que, nas idas e vindas da existência, nem sempre tudo caminha conforme os sonhos e projetos desejados e previstos. Há desencontros, frustrações, imaturidades, condicionamentos, limitações das mais diversas ordens que alteram a ordem esperada do caminhar da vida. Ainda que exista este cenário de contingências, o amor, criativo que é, encontra meios de se reinventar. Desta forma, celebrar a Sagrada Família é celebrar a sacralidade de um ambiente onde, mesmo longe das idealizações ou sonhos, as pessoas aprendem a desenvolver a “capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos” (cf. Papa Francisco, Mensagem para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2015).
Neste dia dedicado à Sagrada Família, o discípulo deve ser provocado a entender que “família” não se resume a um modelo abstrato que se há de aceitar ou rejeitar, defender ou atacar. Não é uma ideologia que divide quem é contra ou a favor, mas uma realidade concreta que se há de viver, “o lugar onde todos aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado” (Idem).