10/04: Domingo de Ramos

Neste domingo tem início aquela semana que a Igreja chama de Semana Santa. Neste domingo evocam-se dois mistérios: a Entrada de Jesus em Jerusalém e sua Paixão. Por isso, este dia litúrgico é chamado de Domingo de Ramos e da Paixão. Na abertura da assembleia dominical, comemora-se de modo mais solene, com procissão ou de maneira simples, em cada Missa, a entrada de Jesus em Jerusalém.

No ciclo do Ano litúrgico B a Liturgia proclama no Domingo de Ramos e da Paixão a narração da Paixão de Jesus segundo Marcos. Ela distingue-se pelas testemunhas oculares da Paixão. São cinco vezes três testemunhas (cf. Mc 14,1-15,47). A narração da Paixão como tal é precedida, na forma mais longa, pela unção na casa de Simão, a última Ceia, a agonia no Getsêmani, a prisão de Jesus e a negação de Pedro.

A história da Paixão e Morte de Jesus Cristo não é algo distante ou sem interesse. Toda a humanidade e cada indivíduo estão envolvidos nela, dela participam de alguma maneira e dela são chamados a darem testemunho.

Cada pessoa humana pode representar a mulher que tinge o corpo de Jesus, praticando uma obra boa, merecendo sua ação ser recordada onde se proclame o Evangelho (cf. Mc 14,9). Poderá exercer o papel de Judas que se desespera ou o de Pedro que nega o Mestre, mas se deixa atingir pelo olhar misericordioso de Cristo (cf. 14,72). Pode acontecer que façamos o papel de Pedro, Tiago e João. Em vez de vigiarem, adormecem enquanto o Mestre sofre a agonia da sua hora. Seremos talvez, em certas circunstâncias da vida, as testemunhas falsas, os sumos sacerdotes, os anciãos e os escribas, que não reconhecem nele o Filho de Deus bendito nem o Filho do Homem que verão sentado à direita do Poderoso. Quantas vezes, em vez de ungir o corpo do Senhor, n’Ele cuspimos, cobrimos-lhe o rosto e o esbofeteamos como se não o conhecêssemos.

De repente se manifesta em nós a figura de Pilatos. Ficamos impressionados com a figura de Jesus Cristo, mas, por covardia, acabamos por condená-lo. Seremos ainda o povo, preferindo Barrabás a Cristo. Quantas vezes a humanidade cobre o Filho do Homem de zombarias como os carrascos no interior do pátio do Pretório, não reconhecendo n’Ele o Filho de Deus. Por vezes, talvez contra a vontade, fazemos o papel de Simão Cireneu, ajudando a carregar a cruz de Cristo, pesando nos ombros da humanidade injustiçada e sofrida hoje. Em vez de água, oferecemos-lhe vinho com mirra.

Cada pessoa já terá sentido em si o conflito entre o personagem que faz o Cristo sofrer mais e aquele que se solidariza e procura aliviar os seus sofrimentos. Importa que no Filho do Homem, em cada pessoa humana, reconheçamos como o Centurião: “De fato, este homem era Filho de Deus”. Importa que permaneçamos com o Cristo mesmo no alto da cruz como aquelas mulheres fiéis e corajosas, que prestemos o serviço ao corpo morto de Cristo, como José de Arimatéia, para que, ungido, possa nascer nova vida da terra.

“Viver o Ano Litúrgico”, textos de Frei Alberto Beckhäuser, Editora Vozes.


CELEBRAÇÃO POPULAR DA SEMANA SANTA

Em muitas regiões do Brasil, com especial destaque para Minas Gerais, encontramos expressões populares na celebração da Semana Santa. Vários foram os motivos que levaram a isso. Entre eles estão certamente a língua, a clericalização da liturgia e seu caráter muito intelectual. Criou-se, assim, um certo paralelismo entre a Liturgia romana e a expressão popular. Importa, no entanto, compreender e valorizar essas formas populares, para, a partir delas, se chegar a uma vivência maior dos mistérios de Cristo pelo Rito romano e realizar uma possível integração das expressões populares.

A celebração popular da Semana Santa comemora essencialmente o mesmo Tríduo pascal da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição do Senhor. Ela o faz ao ar livre através de procissões.

Assim, os Passos da Paixão são vividos na Procissão do Encontro. Podemos valorizar todo um conteúdo ligado ao encontro entre Deus e a humanidade, depois do desencontro por causa do pecado. O encontro de Jesus com sua Santíssima Mãe no caminho do Calvário representa o encontro da humanidade com seu Deus, encontro que passa pelo mistério da cruz. Esta procissão é realizada no Domingo de Ramos, na Terça ou na Quarta-feira da Semana Santa. Isso tem seu motivo. Na Liturgia anterior à reforma da Semana Santa, nesses dias se proclamava a Paixão de Jesus conforme os sinóticos. A agonia e a morte de Jesus recebem um destaque especial através do Sermão das Sete Palavras. Trata-se de uma celebração da Palavra de Deus, com proclamação da Palavra, o canto, a homilia e a oração, em sete etapas.

A Sepultura do Senhor é comemorada pelo Descendimento da Cruz, com pregação, a Procissão do Senhor morto e o sermão da Soledade. Tendo sido a semente lançada à terra, o Senhor repousa na esperança da ressurreição.

Finalmente, temos a Procissão do Senhor ressuscitado, realizada, em geral, após a Missa da Vigília. Em outros lugares, na madrugada ou na manhã da Páscoa. É a procissão do triunfo de Jesus Cristo sobre a morte, vivo e presente na Igreja, sobretudo no mistério da Eucaristia.

Às vezes, temos uma quarta procissão, sem contar outras procissões de menor importância: a do Triunfo de Nossa Senhora. Em certas cidades é realizada na tarde do Domingo da Páscoa. A humanidade triunfante com Cristo é representada por Maria. Outras vezes ela é solenemente coroada após a Procissão da Ressurreição do Senhor.

A participação popular caracteriza as celebrações: os leigos são os agentes, enquanto o clero acompanha. Sobressaem a linguagem visual e a ação, sobretudo pelo andar.

“Viver o Ano Litúrgico”, textos de Frei Alberto Beckhäuser, Editora Vozes.

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