“Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! Eterna é sua misericórdia! A casa de Israel agora o diga: Eterna é a sua misericórdia!”
A Vigília Pascal constitui o centro de todo o ano litúrgico, das grandes celebrações da igreja. Na tradição cristã esta é a mãe de todas as vigílias. E por quê? Porque nesta noite santa, proclamamos que o Senhor vive e verdadeiramente deu sua vida por nós no alto da cruz, nos envolveu de salvação e de amor. Ele estabeleceu desde sempre uma aliança de amor para conosco. Nesta noite santa experimentamos o quanto Deus nos ama, o quão eterna é sua misericórdia!
Nesta vigília a Igreja celebra não apenas a Páscoa de Jesus. Celebra também a páscoa dos cristãos, seus membros pelo batismo. É a festa da igreja, dos filhos de Deus, gerados pelo batismo. É uma festa, por excelência, batismal. Os símbolos do batismo estão vivamente presentes e visíveis nesta noite: a luz, a água, a Palavra de Deus. Nos inícios do cristianismo, era justamente nesta noite que se realizava a celebração dos sacramentos da iniciação cristã: batismo, eucaristia e crisma.
Iniciamos esta vigília na escuridão da noite, fora da igreja. O Círio Pascal se acende. A luz do Cristo vai sendo pouco a pouco passada adiante, iluminando os corações das pessoas. Elevamos, então, o grande louvor à luz no solene cântico do Exultet. Proclamamos solenemente a Páscoa.
Iniciamos a grande e bela liturgia da Palavra. Ouvimos as leituras e podemos perceber o quanto Deus ama o seu povo, renova constantemente sua aliança de amor, ao ponto de enviar seu Filho como nosso Redentor. O Gênesis nos fala da criação do mundo e como ápice de toda a criação, Deus cria o homem e à mulher a sua imagem e semelhança. E Deus viu que tudo era muito bom e confia a eles o cuidado da criação. Ouvimos o êxodo e a história da libertação do povo de Deus da terra da escravidão. Deus livra o seu povo da morte e estabelece uma aliança de amor para todo o sempre. O profeta Ezequiel lembra que Deus haverá de arrancar o nosso coração de pedra e nos dará um coração de carne, capaz de amar.
No Novo Testatamento, ouvindo Romanos e o Evangelho de Lucas, onde Jesus Cristo é a nova aliança estabelecida entre Deus e a humanidade. Em Cristo somos criaturas novas, homens e mulheres transformados, na força do amor. Morremos e vivemos com ele. No Evangelho, as mulheres, primeiras testemunhas da ressurreição, não encontram o corpo de Jesus no túmulo, o túmulo está vazio. É um sinal eloquente por si só. “Por que estais procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui. Ressuscitou”. Jesus não está no túmulo, mas vive na história de cada homem e mulher de boa vontade, daqueles que procuram construir o Reino de Deus, do jeito de Jesus. Nós somos as testemunhas da ressurreição!
Dentro de instantes, vivenciaremos a liturgia batismal, com a bênção da água e a renovação das promessas de nosso batismo. A ação de graças sobre a água batismal comemora a ação criadora e libertadora de Deus através da história da Salvação, evocada na celebração da Palavra. Pelo batismo, somos nós agora, as testemunhas da ressurreição, sinais de páscoa e de vida para nossos irmãos. A ressurreição de Jesus continua em nossos gestos de amor.
E o ponto alto da celebração desta noite é a Eucaristia, ação de graças por excelência, celebração da nova Páscoa de Cristo participada pela Igreja. A vida que nasce no Batismo e é animada pelo Espírito alimenta-se na mesa do Cordeiro Pascal. Os cristãos dão testemunho da Morte e Ressurreição do Senhor Jesus e comprometem-se a ser vida, corpo dado e sangue derramado numa vida de ação de graças a Deus e ao próximo. Assim, inaugura-se um novo céu e uma nova terra.
Um novo céu e uma nova terra de misericórdia, de justiça, de vida, de partilha solidária, de paz, de respeito e amor entre todos os povos. Que possamos dizer com o salmista: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! Eterna é sua misericórdia! A casa de Israel agora o diga: Eterna é a sua misericórdia!”