Pintura artístico-ornamental

Ao fiel e ao turista, o processo de restauro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário salta aos olhos com as melhorias em todo o conjunto do monumento, mas as pinturas artístico-ornamentais do interior do templo são um caso à parte. Trata -se de desenhos, texturas e figuras que recobrem de beleza boa parte do interior da nave, o arco cruzeiro e a capela-mor da Igreja, contrastando aprazivelmente com a alvura do branco característico das construções seculares, como é o caso.

Como se trata de uma igreja com quase cinco séculos, os responsáveis pela restauração, com a anuência do IPHAN, tomaram a decisão de estabelecer a aparência interna como aquela da virada do século XIX para o XX. Justifica-se, segundo o relatório das obras, entre outros, essa decisão por se tratar do período acerca do qual se pôde recuperar os melhores e maiores vestígios das marcas decorativas e ornamentais, permitindo-se a sua reprodução minuciosa e constituindo uma identidade visual harmoniosa na totalidade do conjunto das partes internas do templo.

De toda sorte, o Instituto Modus Vivendi, segundo sua diretora presidente, Erika Kunkel Varejão, buscou o parecer de um especialista para orientar especificamente esse processo, conduzido pelos restauradores Raquel Diniz Ferreira e Idésio José Fim Francischetto.

O especialista é o professor doutor Nelson Pôrto Ribeiro, para quem, em seu laudo técnico, decidiu-se muito adequadamente acerca do “partido adotado para esta restauração e já aprovado pelo IPHAN”, aquele “de retornar ao tratamento decora trvo do final do século XIX início do XX, que associa pinturas decorativas em estêncil ao longo das paredes laterais da capela com pinturas artísticas de dimensões reduzidas também em ambos os lados; decoração esta que está em relativo bom estado e três de camadas de pintura branca e que se coaduna com o estilo do altar-mor em madeira que se encontra na referida capela (restaurado em 2005-08), provavelmente datado do mesmo período dado a proximidade das identidades estilísticas”.

O professor enumera as “vantagens” da escolha por essa configuração artístico ornamento do templo:

“1. Obtenção de uma desejável unidade estilística no interior do templo entre capela-mor e a nave, integrando as decorações parietais com o tratamento e o estilo dos altares laterais da nave assim como com o altar-mor da capela, todos recentemente restaurados.

2. Tratamento decorativo este que deve ser observado – seria distinto do tratamento externo do templo, onde continuaria prevalecendo o estilo seiscentista, mas que não apenas não seria contrastante, por estarem os dois tratamentos em ambientes distintos, mas, ainda porque seria instigante sobre o ponto de vista pedagógico educação patrimonial ao mostrar as marcas da passagem do tempo no monumento, sobretudo quando essas marcas dizem respeito aos constantes cuidados de uma comunidade com o seu local de culto. Nesse sentido, seria pertinente a preparação de painéis para serem exibidos em um local neutro – como o coro, por exemplo- contendo material do Relatório e mostrando os vários ciclos decorativos aos quais o templo foi submetido através da sua história.

3. A obtenção da unidade mencionada no item i tornaria este templo particular no contexto dos templos católicos históricos do patrimônio do Espírito Santo, onde é possível se encontrar vários outros exemplares de templos que mantiveram a sua decoração interna seiscentista, mas onde rareiam exemplares com tratamentos decorativos complexos do século XIX, os quais continham sofisticadas técnicas de trompe l’oeil, tais como os marmorizados (faux marbre), escaiolas, estêncil e pinturas parietais artísticas.”

4. A decoração artística peculiar e de grande valor estético do interior da igreja do Rosário, depois de recuperada, será com certeza motivo de orgulho para a comuunidade local, mantenedora do monumento, o que compensará largamente eventuais cuidados a mais que forem necessários para a sua manutenção.”

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