Os pensamentos generosos do Sagrado Coração de Jesus

Frei José Ariovaldo da Silva, OFM

Não faz muito tempo, celebramos durante cinquenta dias as solenidades pascais. Nesta sexta feira (19.06), na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, é como se entrássemos de novo naquelas solenidades e revivêssemos o imenso mistério do amor de Deus manifestado em Cristo. E o fazemos pela via simbólica do coração. Do coração de Jesus.

A devoção ao Sagrado Coração provém de tempos bastante remotos. Grandes santos medievais, como São Bernardo e São Boaventura, teceram “profundas considerações sobre o amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, sobretudo em sua sagrada Paixão”.

Mas foi o realce dado à humanidade de Jesus Cristo que “fez brotar a devoção ao seu Coração sagrado, símbolo do amor de Deus transformado em amor humano. A devoção como tal tem início nos fins do século 13 e inícios de século 14, sobretudo em regiões da França e Alemanha. Sua festa começou a ser celebrada a partir do século 16, sobretudo na França” (A. Beckhäuser. Viver em Cristo. Espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 161).

Vários papas deram sua chancela ao novo culto, desde Pio IX que estendeu a festa a toda a Igreja em 1856, passando por Leão XIII que consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus, até Pio XII que mais uma vez recomendou esta devoção mediante uma carta encíclica.

O Evangelho deste (cf. Mt 11,25-30) ilumina esplendidamente o sentido da solenidade de hoje. Após a vivência de uma espécie de – digamos – desencanto (cf. v. 20-24), Jesus se expõe, de repente, num arroubo de profunda gratidão, bem como de consoladora ternura e compaixão. Diante de muita gente, provavelmente, ao seu redor, ele se dirige ao Pai, dizendo: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado” (v. 25-26). Logo a seguir, ele afirma: “Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (v. 27). E completa: “Venham a mim vocês todos que estão cansados e fatigados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês vão encontrar descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (v. 27-30).

Jesus falou isso após uma dura chamada de atenção às cidades “em que se realizou a maioria de seus milagres, por não terem se convertido”. São elas: Corozaim, Betsaida e Cafarnaum (cf. v. 20-24). Em outras palavras, mesmo com a evidência dos milagres de Jesus, as elites – os grandes – dessas cidades não acreditaram ser Jesus o próprio Filho de Deus, a expressão acabada daquilo que Deus mesmo é: Amor. Preferiram permanecer na zona de conforto de suas “verdades”, a se converter à sabedoria de vida que Jesus trazia da parte do Pai. Resultado: A estes – fechados em si mesmos –, os pensamentos generosos do coração de Deus ficaram ocultos. Os “pequeninos”, por sua vez – subjugados pelos poderosos e, por isso, cansados e fatigados, – eles sim, entenderam a proposta de Jesus. Diferentemente das elites subjugantes do povo, os “pequeninos” – eles sim! – ofereciam espaços abertos em seus corpos para assimilar e colocar em prática a íntima e divina conexão de conhecimento existente entre Jesus e o amor do Pai. Daí a alegria do louvor de Jesus ao Pai!

A estes “pequeninos”, Jesus então os encoraja no sentido de seguir sua proposta de uma alternativa de vida muito mais leve, feita de mansidão e humildade: “Venham a mim vocês todos que estão cansados e fatigados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês vão encontrar descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (v. 27-30).

Em outras palavras, no fundo, Jesus como que lhes diz: “Vejo que vocês, sim, são capazes de entender que meu Pai é puro Amor e d’Ele eu vim por amor a vocês. Por isso, permaneçam nesse Amor, amem-se uns aos outros do jeito que eu estou amando vocês. Permaneçam neste Amor, pois é assim que vocês vão permanecer com Deus e Deus vai permanecer com vocês (cf. 1João 4,7-160. Destarte, a vida de vocês vai ficar mais suave e mais leve. Mas são vocês que, junto comigo, vão construir esse mundo melhor. É o que eu desejo de todo o meu coração para todos vocês. Contem com meu apoio, com a graça do meu Espírito de amor”.

O mundo de hoje, dilacerado por muita ignorância geradora de tantas mentiras, hipocrisias, preconceitos, ódios, agressões, brigas, guerras, divisões, jogo de poder, destruição do meio-ambiente, enfermidades de todo tipo, e, ao mesmo tempo – graças a Deus! –, encorajado pela sabedoria de milhares de pessoas em gestos de solidariedade, compaixão, compreensão, serviço generoso em favor dos empobrecidos, adoecidos, sofridos e do meio ambiente depenado, este nosso mundo, nossa sociedade, precisa aprender muito ainda dos pensamentos generosos do coração de Deus, a viver em paz, com a leveza e a suavidade do coração do seu Filho Jesus.

Por isso, especialmente neste dia, oramos com todos os cristãos de boa vontade: “Concedei, ó Deus todo-poderoso, que, alegrando-nos pela solenidade do Coração do vosso filho, meditemos as maravilhas de seu amor e possamos receber desta fonte de vida uma torrente de graças”.

Paz e Bem!

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