Refletindo sobre o tema do Espírito Santo
A abundância de textos escriturísticos propostos mostra que a comunicação do Espírito de Deus aos homens é um dos temas maiores da Palavra de Deus. Ele a percorre do começo ao fim. Começa com o espírito de Deus que pairava sobre o caos inicial (Gn 1,1). No final do Livro, Jesus, no alto da cruz “entrega o Espírito”. Pentecostes nada mais faz do que explicitar esse dom. Entre o Gênesis e Pentecostes, necessário lembrar a descrição de Babel. Lá vemos a megalomania levar à incompreensão, à divisão, enquanto que o único Espírito de Deus faz com que possamos nos compreender cada um em sua língua, guardando as diferenças. Acrescentemos a travessia do Mar Vermelho. O Vento de Deus abre as águas da morte em vista de uma passagem para a vida. Deus sopra sobre o homem para que seja um ser vivo. Todas as imagens falam da vitória da vida sobre a morte, quer dizer, da salvação que só se realiza pela reconciliação de uma humanidade dividida.
Vida e movimento estão unidos. Mesmo as plantas provindas do interior da terra começam a se esticar (a partir dos ínferos) até as alturas do céu. Em razão da mobilidade é que o Espírito de Vida aparece como vento, pássaro ou chama que crepita. Soberanamente móvel torna móvel tudo o que ele toca. “O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz (a Palavra), mas não sabes de onde vem e para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). Movimento, sempre movimento. Vemos Abraão deixar seu país, os profetas se colocarem a caminho, Maria correr na direção da casa de Isabel, Jesus visitado pelo Espírito no batismo, partir para o deserto. Após a manhã de Pentecostes, os apóstolos partem para anunciar o Evangelho até as extremidades da terra. Tal mobilidade se manifesta em nosso relacionamento com Deus: colocamo-nos a caminho pelo Espírito, avançamos sem parar. Mudam nossas maneiras de ver a Deus e a nós mesmos, nossos comportamentos se modificam, caminhos novos se abrem. Deus é inesgotável como nós também. Rumamos para um termo ignorado porque não sabemos para onde vai e onde nos leva esse espírito. Não há que temer: Deus nos leva para Deus, para o grande Amor.
Marcel Domergue, SJ
Cahiers Croire,, n. 281, p. 57