Apresentação
De maneira clara, condensada, apresentaremos uma noção básica do rico sentido da Liturgia e dos significados dos termos litúrgicos, dos sinais usados, das vestes e objetos litúrgicos, das cores, do rito litúrgico, do Tempo Litúrgico, da oração dos Salmos. Traremos um pequeno texto para a reflexão do mestre em Teologia da Liturgia no Brasil: Frei Alberto Beckhäuser (in memoriam).
Frei Alberto nasceu aos 20 de maio de 1935, na Freguesia deSanta do Coqueiro Baixo, hoje também chamada Santa Teresinha, então, município de Criciúma, um tempo, pertencente ao Mun. de Nova Veneza e, hoje, Forquilhinha, SC. Faleceu no ano de 2017, na cidade de Petrópolis, RJ.
- “Liturgia é igual a ritos?”
Se considerássemos a Liturgia simplesmente como um conjunto de ritos estaríamos muito errados e cairíamos num estéril ritualismo já condenado por Jesus Cristo, que pede um culto espiritual a Deus no Espírito e na verdade.
O rito constitui um aspecto da Liturgia da Igreja. É um elemento constitutivo da Liturgia, mas não é a Sagrada Liturgia.
A Sagrada Liturgia nos supera infinitamente. Ela constitui um dom de Deus dado aos através de Jesus Cristo, na força do Espírito Santo. É obra da Santíssima Trindade. Assim, não nos compete apossar-nos da Liturgia, mas deixar-nos possuir por ela. Não nos compete conduzir a Sagrada Liturgia, mas deixar-nos conduzir por ela.
Antes de nós servirmos a Deus, Deus serviu aos seres humanos. Liturgia significa ação em favor do povo, em favor da comunidade. A Liturgia divina é, primeiramente, o serviço que Deus presta a si mesmo, no mistério da Santíssima Trindade. Depois, o serviço que Deus prestou à humanidade, dando-nos o seu Filho Jesus Cristo, que por sua morte e ressurreição prestou o serviço de glorificação ao Pai e o serviço de salvação e santificação à humanidade. A este serviço de salvação de Jesus, a Igreja chama de mistério pascal. Diz o Concílio Vaticano II: “Esta obra da Redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão. Por este mistério, Cristo, ‘morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, recuperou a nossa vida’. Pois do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5).
Em seguida, o Concílio ensina como esta obra da Redenção e da perfeita glorificação de Deus chega até nós, como podemos participar dela: “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o Filho de Deus, pela sua morte e ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do Sacrifício e dos Sacramentos, em torno dos quais gira toda a vida litúrgica” (SC 6).
A Igreja tem a missão não só de anunciar a salvação, o mistério pascal, mas de realizá-lo. Para isso, Cristo Jesus continua presente e atuante na Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas (cf. SC 7). “A Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros” (SC 7).
A Liturgia celebrada é a obra da salvação e do culto de Cristo prestado ao Pai tornada presente e atual através de sinais sensíveis e significativos da própria ação sacerdotal de Cristo. Estes sinais sensíveis e significativos da ação salvadora e do verdadeiro culto prestado por Cristo ao Pai, formam os ritos. Os ritos são, pois, a expressão significativa da obra da salvação e da glorificação da qual os que celebram participam.
Jesus agiu uma vez para sempre. Esta ação de Jesus torna-se presente para os que Nele crêem e se deixam atingir pela ação de salvadora de Jesus. É isto a Liturgia celebrada.