Frei Gustavo Medella
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro” (Lc 20, 1a). Madrugada é hora do sono, da vigilância, da emergência, da transição entre noite e dia, da balada. É hora da insônia, da solidão, dos pensamentos estranhos, dos medos, das preocupações.
Para Maria Madalena, hora do gesto de carinho discreto e silencioso para com o Mestre, ou melhor, para com sua sepultura. Em seu pensamento, a partir de agora, passar uma vassoura ao redor da sepultura e colocar algumas singelas flores por ali era a única forma possível de reverenciar aquele que para ela fora tão importante.
Certamente, trazia consigo saudade e resignação que, prontamente, transformaram-se em susto quando ela percebeu que o túmulo estava vazio. Certamente, o mesmo vazio por um instante tomou conta do seu coração, afinal, não podia fazer ideia do que teria acontecido ao seu Senhor.
A narrativa prossegue relatando a entrada de Simão Pedro e do outro discípulo na história, descrevendo como encontraram os panos dispostos no túmulo, encerrando-se com o seguinte versículo: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Lc 20,9).
Deste episódio, algumas lições pontuais que a Páscoa pode trazer para a vida:
1) Mesmo sem ter clareza da ressurreição, Maria Madalena é exemplo de fidelidade e cuidado, revelando que a força do amor é sempre capaz de superar a dor da morte. Seu gesto por si já representa uma profissão de fé no Ressuscitado. Onde o amor está presente, a Páscoa acontece.
2) A madrugada não traz consigo uma escuridão definitiva, mas é o prenúncio da luz do dia, assim como a morte de Cristo não foi o seu fracasso, mas a porta de entrada para a vida plena. Onde a esperança está presente, a Páscoa acontece.
3) O susto também está presente na cena. As surpresas da ressurreição vêm revelar a criatividade surpreendente de Deus, que deseja despertar no ser humano as melhores qualidades que cada um traz dentro de si. Onde a capacidade de se admirar está presente, a Páscoa acontece.
4) Mesmo próximos de Jesus, os discípulos custaram a compreender a dinâmica da ressurreição. Os esclarecimentos surgiram aos poucos, já na caminhada pós-pascal. Isto significa que a Páscoa não se reduz a um acontecimento a ser apreendido pela razão, mas uma verdade a ser vivida no coração. Onde a disposição do coração está presente, a Páscoa acontece.