O Evangelho de hoje está dentro do contexto do Sermão da Planície. Se as Bem-aventuranças e os ais, que lemos no domingo passado (Lc 6,17.20-26), formam a primeira parte, o trecho de hoje compõe a segunda (Lc 6,27-38) e o trecho do domingo que vem constitui a terceira parte (Lc 6,39-45). A página de hoje traz uma das mais importantes lições do Novo Testamento: devemos amar a todos como Deus a todos ama indistintamente. Jesus toma um exemplo extremo: o amor aos inimigos. Não é raro Jesus tomar o exemplo mais difícil para chamar a atenção para a grandeza do assunto que está tratando. Poderíamos ver o texto de hoje como uma hélice que tem duas asas. Numa poderíamos pôr a pergunta: O que fazer? Na outra, a pergunta: Por que fazer? No trecho de hoje, o que fazer vem expresso pela frase: “Amai os vossos inimigos”, que Jesus desenvolve, mostrando mesmo alguns lados práticos desse amor: fazer-lhe o bem, rezar por ele, não julgá-lo. Na outra asa da hélice, na asa do por quê?, Jesus supera todas as razões humanas e fornece uma teológica, a mais profunda e talvez única razão aceitável: porque esse é o comportamento do Pai do Céu.
Frei Clarêncio Neotti, OFM