Marcos agrupou uma série de ensinamentos de Jesus, certamente pronunciados em diferentes circunstâncias, mas agrupados aqui, entre as condições para ser um verdadeiro discípulo. Não há entre eles uma sequência muito lógica, a não ser a intenção de continuar a expor as exigências da nova comunidade, exigências nem sempre dentro dos parâmetros teológicos e sociais do Antigo Testamento. Uma das lições de hoje refere-se à abertura do coração. Jesus já dissera que o discípulo deveria renunciar aos próprios interesses e a si mesmo (Mc 8,34); dissera que deveria ser o último e servir a todos (Mc 9,35). Acontece que ninguém pode servir sem renunciar, e ninguém pode servir com generosidade sem grande abertura de coração. Um coração fechado sobre si mesmo é incapaz de servir ou de compreender o que seja uma renúncia. Os Doze reagiram com ciúme e intransigência a um Fulano que expulsara demônios em nome de Jesus e não pertencia ao grupo dos discípulos. Os Doze haviam-se apropriado de Jesus, uma apropriação indébita, porque Jesus pertence a todos. O bem não é propriedade de ninguém e de nenhuma igreja. O bem pertence a Deus.
Frei Clarêncio Neotti, OFM